Char é o fundador, idealizador, developer e as vezes escreves artigos para a Planeta Gundam. O primeiro contato com a franquia foi em 2009, depois de ter jogado Gundam Musou 2 (Dynasty Warriors Gundam 2) para PS2.
Muitos fãs de animes clássicos já ouviram falar de Yoshiyuki Tomino. É dele a mente por trás do primeiro anime de Gundam, Mobile Suit Gundam. Tomino criou desde então trabalhos em diversas áreas entre filmes e animes. Ollie Barder, contrubuidor no site da revista Forbes, uma das revistas mais respeitadas do mundo, teve a chance de entrevistá-lo. Detalhe importante é que essa não é uma revista de animes. Para quem não conhece, podemos dizer que ela, nos Estados Unidos, é algo como uma versão voltada para negócios, economia e marketing da revista Veja ou Istoé (sem os problemas que as duas tem, claro). Sempre que posso eu leio, e eles sempre tem algo interessante. Ollie sempre escreve sobre cultura japonesa no site da revista, e Gundam está dentre um de seus temas favoritos.
De acordo com Ollie, Tomino é uma grande figura na indústria de animes, tendo dirigido várias séries e filmes de sucesso. Apesar dele ser mais conhecido por seu trabalho com animes de mecha, a história e a profundidade de seus personagens foi o que o permitiu seu trabalho ser reconhecido no mundo inteiro.
Eu me formei em 1964, num período onde a produção de filmes no Japão estava passando por um período muito difícil. Na verdade, para ser honesto, o mesmo estava acontecendo em Hollywood, até onde sei. Me formei em produção cinematográfica e encontrar um trabalho era muito, mas muito difícil. Incidentalmente, a Mushi Production estava recrutando pessoas que tinham acabado de se graduar. Além disso, minha universidade e a empresa tinham um excelente relacionamento. Enviei meu curriculum, fui entrevistado e consequentemente contratado. Nos dias de hoje, as pessoas buscam emprego nessa área porque adoram animação, mas para mim, esse não foi o caso.
"Durante meu ano final na universidade, a série Tetsuwan Atomu (Astro Boy) tinha acabado de estrear na TV. A série era conhecida nessa época como "anime limitado", mas depois de um ano no ar, eles começaram a mudar o processo de produção."
"Depois de eu ter sido contratado para a Mushi Production, três meses depois eu comecei a refletir sobre se escreveria um script ou se trabalharia na direção. Comecei com a primeira opção e seis meses depois uma storyboard minha foi aprovada e comecei a me envolver com direção. Porém, esse tipo de trabalho era infantil demais para mim e eu não tinha certezas que esse trabalho ia acabar sendo gratificante."
"Foi bem difícil me familiarizar com o processo do tal do "anime limitado". Deixei a Mushi production e comecei a trabalhar com propagandas de TV como um freelancer, mas isso acabou sendo bem ruim financeiramente. Além disso, eu estava muito acostumado a trabalhar numa mesa e meu corpo teve dificuldades em mudar para um trabalho que exigia mais fisicamente. Acabei voltando para a indústria de animação. Era um trabalho infantil, mas que no fim das contas fazia o fim justificar os meios. Como freelancer, fiz subcontratos para trabalhar com direção e escrevendo storyboards."
"Dessa forma, retornei fazendo tudo isso de uma forma bem pragmática, mas fazendo as coisas de uma maneira diferente. Dessa vez, trabalhei na maior quantidade de gêneros possível. Naquele tempo eu ganhava metade da minha renda vinda de storyboards e eu pensei que, como alguém envolvido na produção de animes, o melhor era trabalhar e desenvolver qualquer coisa que vinha para mim, algo que me ajudaria a melhorar como profissional. Quando uma storyboard minha foi aceita, eu finalmente pude trabalhar como diretor. Eu estava focando em melhorar minhas habilidades em várias áreas diferentes. Olhando para trás, esse pensamento de focar em minhas habilidades foi muito importante para a minha vida. Continuei fazendo isso até 1978, quando comecei a trabalhar com Mobile Suit Gundam."
"Voltando um pouco no tempo, por volta de 1974 eu trabalhei com Isao Takahata (co-fundador do Studio Ghibli) em um storyboard que eu estava fazendo. Várias pessoas estavam envolvidas nesse projeto e eles estavam discutindo sobre como dramatizá-los, como fazer o anime. Eles estavam debatendo e discutindo sobre isso, quase teorizando. Foi aí que eu descobri que eu não devia olhar para o meu trabalho de uma forma puramente prática. Eu precisava olhar para ele de uma forma criativa e artística. Foi mais ou menos nesse tempo que eu também conheci Hayao Miyazaki (outro co-fundador do Studio Ghibli) e ele amava muito trabalhar com animação e como lidar com o gênero mecha. Até então eu nunca havia pensado em dramatização em animes. Foi um grande período de estudo para mim."
"Se você não esta envolvido com uma grande variedade de trabalhos, você acaba se focando em apenas uma coisa. Se você não estiver estudando vários tipos de trabalho e se você não aprender diferentes tipos de dramatização então seu trabalho vai ser bem limitado. O que estou querendo dizer com isso é que eu não quero ser um produtor que é capaz de fazer algo como os filmes baseados nas propriedades da Marvel, que a meu ver é bem boba. Obviamente eu reconheço a marca Marvel como uma empresa.
"Por volta de 1977 em diante eu comecei a trabalhar com animes de mecha e de aí em diante eu estava integralmente envolvido em checar todas as histórias e produção. Eu senti que por causa de todo o estudo que eu tinha feito até então, eu poderia fazer um trabalho diferente, algo novo, ao invés de algo parecido com o que a Marvel faz".
"Apesar das restrições colocadas nas produções da época, eu tentei fugir um pouco dessas restrições e trouxe algo mais próximo de um filme em termos de profundidade e abordagem."
"Para criar cinema você tem que se importar com a estrutura de cada cena. Normalmente dentro de cada cena você precisa de se forcar em dois pontos (aliados e inimigos) para fazer as coisas darem certo. Assim como eu e você, por exemplo. Porém, se você for fazer uma história baseada em uma guerra espacial, como você pode criar uma cena assim? O contexto em si é tão vasto em termos de distância."
"Então você tem algo como um radar, que pode detectar a posição de um inimigo, mas isso significa que você não vai ter esses objetos na cena. Isso quer dizer que se as os objetos não se aproximarem, eles não irão caber no mesmo frame, tornando impossível de se construir um drama em volta de tudo."
"Para resolver esse problema, meu time e eu inventamos as partículas Minovsky. Quando elas se espalham em grandes áreas, você não podería mais confiar em um radar para detectar a localização do inimigo. Isso significava que as duas forças tinham que aproximar mais para lutar."
"Ao inventar essa configuração, fomos capaz de criar um drama equivalente ao que se faz em uma produção cinematográfica (e teatral) dentro desse cenário de guerra espacial. Nos 30 minutos seguintes da história, por causa das particulas Minovsky, as duas forças tinham que se enfrentar. Eu não fiz isso porque eu necessariamente quis fazer uma história em volta de uma guerra espacial, mas sim por um propósito completamente cinematográfico".
Apesar dessa ser uma guerra espacial, era possível se comunicar em longa distância. Em termos de técnica cinematográfica, era possível também. Porém, a forma mostrada seria ideológica demais ou muito complicada para se ter uma empatia teatral. Ou seja, a não ser que a distância entre os personagens fosse menor, maior seria a dificuldade em mostrar relacionamentos humanos. Sem a consciência de expressão teatral, Mobile Suit Gundam seria igual a todas as outras histórias sobre guerra. As partículas Minovsky forçavam os personagens a se encontrarem, seja por diversão, seja por vingança. Criou-se um senso de tensão e ao mesmo tempo estabeleceu uma atmosfera dramática."
"Obviamente as partículas Minovsky não foram uma idéia apenas minha. Foi algo discutido bastante pela minha staff. Expliquei para eles o que eu queria e pronto. Porém, esse foi um ponto chave ao fazer a história se passar no espaço, um lugar completamente vazio. Adicionou mais impacto ao efeito cinemático."
"Todas essas coisas eu aprendi com o Miyazaki-san em termos de caracterização e como desenvolver personagens, sem falar de outros elementos teatrais e de drama que aprendi com Takahata-san. Se eu tivesse conheci esse dois indivíduos e tivessse aprendido todos esses elementos com eles, seria muito provável que Mobile Suit Gundam seria do jeito que é. Estou admitindo isso pela primeira vez mas, se eles não tivessem me ensinado essas tecnicas cinematográficas, como por exemplo pensar em cada detalhe minúsculo de cada cena, Mobile Suit Gundam seria pior que os filmes da Marvel."
"Pode até parecer que estou insultando os filmes da Marvel, mas já faz uns 20 anos que eu não trabalho em algo espetacular, então eu realmente não tenho direito de dizer nada sobre eles. Sem falar que, em matéria de entretenimento, existem coisas que tendem a se encaixar melhor em certas épocas. Algo como a série de filmes da Marvel ter seu lugar próprio. Por exemplo, em Holywood, dois filmes do Godzilla foram feitos mas recentemente tivemos um novo filme do Godzilla feito no Japão. Como ele teve um diretor diferente desta vez, Hideaki Anno (criador de Evangelion) neste caso, o filme teve seu próprio realismo e talvez uma abordagem diferente. Dessa forma, eu acho que existem lugares para os mais variados tipo de entretenimento mas eu acho que se esse vier de Tokyo jamais deve ser colocado em um lugar como Hollywood."
"Voltando ao assunto Mobile Suit Gundam, enquanto as partículas Minovsky forçavam os personagens a se aproximarem fisicamente, o conceito de Newtypes foi algo completamente separado disso. O lance todo sobre os Newtypes veio de um lugar completamente diferente."
Para quem não sabe, o conceito Newtype foi muito importante em Mobile Suit Gundam. No anime, eles são produtos da mudança de habitat do homem, do planeta Terra para o espaço sideral, fruto de uma evolução natural, para conseguir superar os desafios do novo habitat. Apesar disso, com os anos, esse conceito foi meio distorcido, algo que Tomino falou com detalhes. "Nessa época existiam outros trabalhos com mecha e ficção científica mas, olhando para eles hoje, posso afirmar que eles não nunca foram ficção científica. Os Newtypes vieram como solução para esse problema."
"Por volta de 40 anos atrás, o uso de poderes da mente e telepatia em ficção científica eram incluídos de forma muito frequente com habilidades de luta. Newtypes, pelo contrário, é apenas um conceito, não é uma habilidade."
Essa premissa de como Newtypes compreendem alguém sem desentendimentos é um tema ainda presente nos trabalhos de Tomino e algo que está presente em outra de suas séries, como a Aura Battler Dunbine.
"Então, em Mobile Suit Gundam eu enviei uma mensagem aos espectadores, especialmente os mais jovens, de que você deve tentar se tornar um Newtype. Se quisesse continuar enviando essa mensagem, o que mais eu poderia fazer? Eu pensei em uma nova história que se passa em um mundo imaginário, mas não exatamente de fantasia, pois eu não acho que Aura Battler Dunbine seja uma série de fantasia. Ela se passa em um mundo imaginário e um que consequentemente possui mechas. Ele não é baseado em um mundo de uma dimensão diferente."
"A história de Aura Battler Dunbine é dentro do mundo da imaginação, um dos motivos pelo qual eu acho que os japoneses da minha geração tem um grande interesse pelo folclore europeu e mitologia. Considerando que uma animação precisa ter uma visão global, eu achava que essa idéia era algo que o Japão seria totalmente contra. É por isso que eu optei em fazer a história de Aura Battler Dunbine se passar numa Europa medieval."
"O que é mais fascinante em Aura Battler Dunbine é que você tem todas essas pessoas diferentes que vem do mundo dos Terráqueos sendo levados para o mundo imaginário de Byston Well."
"Isso foi algo que funcionou nesta série, já que personagens de lugares como a China trariam características nacionalistas de seus países, juntamente com a raiva que eles tem contra outros países, com eles e atacar outras pessoas como faz o protagonista Sho Zama."
"Em uma cena, um personagem chinês chamado Fei Cheung Kwan luta contra Sho Zama e o repreende por ser japonês, algo que Sho diz ser maluco e irrelevante. Nacionalismo não tinha importância nenhuma nesse mundo imaginário."
Ollie, o entrevistador, estava curioso para saber se isso tinha sido intencional e Tomino esclareceu sem problemas. "Nessa cena que eu acabei de descrever, eu fiz isso intencionalmente porque nesse mundo imaginário isso não seria uma ofensa e isso pode ser expressado de uma forma mais aberta."
"Para a produção, eu me baseei em algo como a Illíada (de Homero, escritor da grécia antiga, que também escreveu a Odisséia) mas não como se eu tivesse tentando criar algo particular à cultura inglesa ou céltica em termos de mitologia. A história vagamente se baseava nesse tipo de coisa."
"Voltando ao aspecto europeu, eu também tentei usar algo similar às partículas Minovsky em Aura Battler Dunbine. Porém, no mundo de Buston Well eu queria fazer algo separado. Nesse mundo existe a noção de "onde a terra encontra o mar", que nesse ponto o mundo se divide. Enquanto esses elementos da cultura européia existem em Byston Well, existe ainda uma abordagem a um mundo imaginário na forma desse reino que não é de forma alguma afetado ou influenciado pela cultura ou folclore da Europa."
Depois do fim de Aura battler Dunbine, Tomino escreveu uma espécie de continuação chamada "Wings of Rean". A história se passa novamente em Byston Well mas não tinha os mechas vistos no anime. Apesar de essa não ter sido a primeira série de novels escrita por Tomino, parece que originalmente ele queria ser um escritor de livros.
"Eu sempre quis escrever livros e corri atrás desse desafio com Wings of Rean. Como resultado, eu senti que não poderia ser um escritor de verdade, nem de novels, nem de drama. Eu senti um senso de fracasso. Esse sentimento aconteceu porque eu não consegui dramatizar fantasia de uma maneira apropriada. Deve haver um jeito de fazer isso, mas eu não consegui. Enquanto o início e fim da história foi bom, o meio ficou devendo. Por causa disso eu não consegui fazer um trabalho de sucesso. Assim como o meu poder de criatividade, ainda sinto que não consegui fazer as coisas darem certo."
"O motivo pelo qual eu não consegui fazer o que eu queria foi porque eu queria mostrar algo imaginário no mundo real. Eu não tinha o que eu precisava dentro de mim para fazer isso. Felizmente encontrei um jeito de fazer isso recentemente. Para fazer isso você tem que, dentro do realismo, você tem que colocar algo imaginário, o contrário do que eu estava tentando fazer. Essa abordagem foi exemplificada recentemente em um filme chamado "Kono Sekai no Katasumi Ni" (filme animado japonês de 2016)."
Durante esse ano, a série mais recente de Tomino finalmente foi lançada em Blu-ray nos Estados Unidos. Produzida pela Right Stuff Anime, que também lançou Zeta Gundam, Char's Counterattack, Wing, dentre outros.
Além disso, vimos também o lançamento mundial da série Gundam mais recente de Tomino, Gundam Reconguista in G. Parece que a série também foi uma espécie de frustração para ele.
"Sobre o lançamento do meu trabalho em Blu-ray no ocidente, isso é algo que outras pessoas organizaram, então eu não tenho muito o que falar a respeito. Como eu disse, o anime é feito para uma audiência global. Nesse sentido, esses lançamentos são uma consequência disso. O fato de que vários animes não foram disponibilizados dessa forma é que realmente era um problema. Isso era muito irritante."
"Naturalmente, eu ficarei muito feliz se existir qualquer reavão ao meu trabalho agora que ele está acessível com mais facilidade fora do Japão. Porém, como eu fundamentalmente acho que animação deve ser feita para uma audiência global, eu me arrependo de não ter feito isso mais cedo. Acredito que isso aconteceu com conta de uma inadequação."
"Em relação à Reconguista in G, não há nenhuma esperança, mas há esperança (sim, ele disse isso pessoal, não é erro de tradução), de termos um lançamento em Blu-ray do trabalho completo. Para explicar, fizemos a série de TV mas ela não foi aperfeiçoada em termos de conteúdo. O fato de que a produção não pode parar para incluir o conteúdo atualizado no Blu-ray foi algo que para mim foi muito frustrante. Até mesmo eu como criador e produtor, eu não tive o poder de mudar isso, diferentemente do Miyazaki-san, que consegue fazer isso com seus trabalhos. Isso é muito triste. É por isso que agora eu estou trabalhando numa versão cinematográfica mas eu ainda não posso falar sobre o assunto."
"Até o momento, todas as variadas séries recentes de Gundam de alguma forma têm como alvo uma audiência mais madura. Eu não acho que deveria ser assim. Gundam Reconguista em G foi feito para audiências mais jovens. Eu acho que outros diretores de Gundam perceberam que o foco mudou e que isso foi um erro. Animes são para pessoas jovens. Com isso em mente eu criei Gundam Reconguista em G. Apesar da história ser sobre uma guerra, ela era divertida também."
"Mesmo tendo como alvo uma audiência mais jovem em Gundam Reconguista em G, ainda estão apresentando alguns problemas para que eles reflitam. Por exemplo, eu sou contra o conceito de elevador espacial. Eu adicionei o elevador conhecido como Capital Tower na série para os telespectadores mais jovens refletirem se algo assim realmente seria possível. Gostaria também que essa fosse uma reflexão dos adultos que assistem à série. As reações sobre o assunto podem demorar, talvez, uns 20 anos."
"Para mim, elevadores espaciais não são viáveis em termos de infraestrutura. Esse é o ponto. Economicamente não dá pra acontecer, a não ser que ele se torne algo como a Capital Tower, que era um sistema de trens. Mesmo se fosse assim, ainda existiria uma contradição pois um sistema de transporte precisa de que certas condições sejam satisfeitas. Deve haver um destino e suprimentos a serem transportados de um local ao outro. Caso contrário, um projeto assim nunca sairia do papel. Por isso, em Gundam Reconguista em G, nós fizemos com que houvesse um motivo para o elevador existir: transportar as "Baterias de Photon" da orbita. Assim, existiriam suprimentos a serem transportados. Apesar disso, se não for num mundo de ficção, não há muitos motivos para se viajar num elevador espacial. Eu gostaria muito que engenheiros entendesse esse simples fato; isso tem que ser feito para ter uma utilidade."
"Com a tecnologia que temos hoje e as habilidades que temos, um elevador espacial não é possível. Você não pode colocar um cabo entre o chão e uma estação espacial. Não há nenhuma informação técnica sobre como projetar um sistema de transporte público. No começo do ano foi demonstrado que realmente é impossível fazer isso e eu quis demonstrar esse fato em Gundam Reconguista in G.
Com o passar dos anos, Tomino tem sido bem crítico sobre vídeo games e o Ollie sempre quis saber se o que as pessoas diziam que ele falava sobre o assunto era verdade. Curiosidade vem de um de seus trabalhos mais recentes, Overman King Gainer. O protagonista é um gamer hardcore e essa habilidade tem um papel importante na história.
Ollie queria saber e Tomino não hesitou em responder. "Eu não jogo video games, eu não gosto. Do mesmo jeito que eu não gosto de certas comidas, mesmo depois de ter experimentado. Apesar disso, como video games são bastante populares, deve ser algo divertido mas eu não quero nem chegar perto. Em termos de personalidade, eu acho que não seria muito saudável para mim jogar video games pois eu iria gastar muito dinheiro com eles."
"Em relação ao fato de que o Gainer Sanga era muito bom em video games em overman King Gainer, minha staff decidiu de que essa era uma boa idéia. Porém, acho que eu, como escritor, não consegui usar muito essa habilidade do meu personagem."
Nessa hora, mudamos o assunto da conversa sobre alguns dos temas explorados em Gundam como um todo. Um dos assuntos mais presentes na franquia é de que a humanidade consegue criar colônias espaciais por causa da super propulação e poluição na Terra. Resumindo, existe uma narrativa ambientalista. Esse é um assunto que Tomino repetiu várias vezes em seus trabalhos.
"Durante a administração do Obama havia um plano de enviar pessoas para Marte. Isso não faz sentido algum. Não há porque fazer isso. Lá não tem nada."
"A idéia de que precisamos sair da Terra por causa da poluição é um assunto de ficção científica. Essa é uma mensagem que pode ser bem chocante, mas temos que encontrar uma maneira de reduzir a quantidade de pessoas no planeta em pelo menos pela metade com o tempo. Precisamos nos reorganizar e planejar. Precisamos aprender a usar melhor os recursos naturais disponíveis no planeta nos próximos 10 anos. Eu acho que capitalismo da forma que está sendo feita não deve ser mais permitido. Eu acredito que o mundo moderno é o resultado de um mundo inteiro focado apenas em economia."
Para Ollie, a idéia de que há gente demais na Terra e que os modelos econômicos que temos é tóxico são idéias que também passaram pelas mentes de outras pessoas de nome como Stephen Hawking (físico americano, talvez o homem mais inteligente do planeta) e Sir David Attenborough (cientista britânico). Ollie acha que ele não é o único que pensa assim sobre a economia.
"Durante o século 19, as pessoas pensavam que o petróleo só ia durar por 80 anos. Agora que o tempo passou, há gente que ri desse fato. Porém, há menos de 100 anos atrás, a população mundial era apenas metade do que é hoje. Além disso, nos dias de hoje temos um mundo de produção e consumo em massa, sem mencionar que dá pra se ganhar dinheiro com negócios na internet através de simples cliques em links. Isso acaba criando classes econômicas como essa de 1% que governa o mundo. Durante a dinastia Edo, a população do Japão era de mais ou menos 35 milhões, talvez esse seria o número certo para um desenvolvimento sustentável. Olhando para o Japão agora, a mentalidade das pessoas mudou completamente. Os tipos de crimes que se cometem hoje em dia é o que mais me preocupa. Com isso em mente, porém, quase todo mundo desfruta de um mundo confortável, com coisas tipo vasos sanitários limpos e ar condicionado. Eu também consumo essas coisas. E essa contradição é algo que me traz à minha mente um certo desespero."
Sobre a classe de 1% e a distorção na economia mundial, parece que esses assuntos também foram alvo de Tomino durante a produção de Gundam Reconguista emm G.
"Quando eu trabalhei em Gundam Reconguista em G, eu comecei a pensar sobre a economia global. Comecei então a trabalhar na idéia da Capital Tower e no meio do processo, existe sim um meio de arrecadar fundos. O resultado disso é que a Terra não se deixa levar por esse sistema, ao contrário do que acontece no mundo real. Dessa forma, economia é algo muito importante. Hoje em dia nós falamos de capitalismo de livre mercado mas, de onde vêm essa idéia? Para saber a resposta dessa pergunta, eu resolvi fazer uma pesquisa. Se você falar de capitalismo de livre mercado você está falando de coisas como bolsa de valores e não tem como parar algo assim. A realidade é que não há nenhum dinheiro de verdade envolvido, a maioria é feita com dinheiro imaginário. Então, como tudo isso começou? Ano passado (em 2016) eu encontrei um livro de Max Weber chamado "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo". Eu aprendi que capitalismo veio de um conjunto de ideais cristãos, que foi baseado em trocas entre grupos de pessoas. Daí o sistema se desenvolveu para se tornar o que temos hoje. Gente séria e trabalhadora criou esse sistema e agora ele mundou para o tal do capitalismo de livre mercado, o que não é anda parecido com o original. Obviamente, não é hora de se falar sobre idealismo se quisermos continuar a viver nesse planeta nos anos que virão. Porém, temos que encontrar uma maneira e se eu conseguisse encontrar uma, eu me tornaria um Newtype de verdade."
Ollie entrevistou anteriormente outros nomes importantes de Gundam e da indústria de animação japonesa, como Kunio Okawara e Ryosuke Takahashi (entrevistas que muito em breve também traremos para vocês com exclusividade). Ao comparar a entrevista com esses dois, Ollie acha que a opinião de Tomino sobre trabalho é bem pragmática. Existe uma enorme quantidade de assuntos que o preocupa. Ollie disse que ele foi muito profissional sobre o fato de ele não ter sido o único a trabalhar nas diversas séries de Gundam, algo que é atribuído errôneamente a apenas ele muitas vezes.
Ollie também diz que uma coisa que o surpreendeu bastante foi o fato de ele ser um pouco cruel demais com si mesmo, algo que o entrevistador achou adimirável e injusto. Ele sempre admirou o trabalho de Tomino pois o mesmo faz despertar sua imaginação. Ollie não concorda muito com a maneira pela qual Tomino avalia suas falhas criativas, mas espera que o trabalho do criador de Gundam se torne mais disponível. Ollie conclui a matéria com um pensamento interessante. "Com uma disponibilidade maior, talvez o trabalho de Tomino fizesse as pessoas pelo menos refletirem sobre o que a mensagem que ele tenta passar. Isso quem sabe poderia fazer com que Newtypes existisse no mundo real, algo que seria muito interessante nesses tempos tão difíceis."
Via Forbes