Fã desde 2011 Conheçeu Gundam atraves de revistas especializadas em animes, sendo o primeiro Gundam que assistiria seria Gundam SEED.
Antes de mais nada, esta entrevista também será dividida em duas ou mais partes, pois também é muita extensa.
Esta entrevista foi divulgada em Junho de 2015 na Animage 444, traduzida por Hyun Park, e disponibilizada mais uma vez pelo site Wave Motion Cannon.
Nascido em 9 de dezembro de 1947, em Hokkaido, tipo sanguíneo: A. Não apenas é um artista de mangá, Yoshikazu Yasuhiko é também diretor, designer de personagens, e animador. Em 1970, iniciou sua carreira como animador na Mushi Production. Posteriormente, se tornou um freelancer. Como designer de personagens, trabalhou em Brave Raideen, Combattler V, Zambot 3, e outros. Em Space Battleship Yamato, Yasuhiko não só foi responsável pela animação, como também pelo storyboard da série. Em Mobile Suit Gundam, trabalhou como diretor de animação, e designer de personagens.
Após o Mobile Suit Gundam, Yasuhiko trabalhou em Crusher Joe, Giant Gorg, Arion, Venus Wars e outros, como diretor. No final dos anos 80, deixou a indústria da animação e se tornou um artista de mangá, sendo que entre seus trabalhos representativos temos Namuji, Nijiiro no Trotsky e Oudou no Inu. Desde 2001, lança Mobile Suit Gundam: The Origin, a versão em mangá do Mobile Suit Gundam. Atualmente, está trabalhando em várias áreas como artista de mangá, diretor-chefe, designer de personagens e storyboarder para a adaptação da série OVA do mesmo título.
Yoshikazu Yasuhiko retornou ao campo da animação 25 anos depois, mas ainda ativo na área dos mangás, assumindo o cargo de diretor-chefe da série OVA de Mobile Suit Gundam: The Origin. Com imagens atraentes e visuais cuidadosamente elaborados, muitos fãs estão satisfeitos com a qualidade do OVA, com a adaptação do mangá. Esta entrevista foi concedida por Yoshikazu Yasuhiko, em abril 3 de abril de 2016, em sua residência, na prefeitura de Saitama.
Yuuichiro Oguro: Dei uma olhada em Mobile Suit Gundam: The Origin - Blue Eyed Casval. Foi maravilhoso.
Yoshikazu Yasuhiko: Muito obrigado.
Oguro: Eu senti que o Blue Eyed Casval tem uma animação leve. As aparências, personalidades e expressões externas dos personagens são suaves. Tive esse mesmo sentimento bem similar ao 'First Gundam'.
(Nota do entrevistador: “First Gundam” é um apelido japonês para a série de TV Mobile Suit Gundam e sua trilogia de filmes compilatórios, Mobile Suit Gundam I, Mobile Suit Gundam II: Soldiers of Sorrow e Mobile Suit Gundam III: Encounters in Space.)
Yasuhiko: Hmmm … eu não estava ciente desta suavidade. Estava apenas fazendo o trabalho com a sensação de que “normalmente é assim que se faz”, sabe? Se está tão suave, então a animação de hoje em dia é bem acentuada e grosseira. Talvez eu não saiba por que não assisto muito.
Oguro: Eu achei que a expressão e atuação da Artesia foram delicadas e fantásticas.
Yasuhiko: Esse é um mérito do diretor de animação, hein? Desta vez, eu tenho dado instruções de casa em vez de ir ao estúdio. Verifico as principais animações e escrevo um memorando que diz 'faça assim', e o resto deixo para o diretor de animação. Enquanto eu assistia o trabalho finalizado, me veio logo um pensamento de “Oh, fizeram um ótimo trabalho!”. A diferença entre agora e naquela época é que s equipes estão mais confortáveis nesse trabalho. É a primeira vez que não preciso fazer correções nas animações chaves.
Oguro: Entendo.
Yasuhiko: Quando eu estava dirigindo, eu fazia correções sozinho. Desta vez, tenho funcionários em quem posso confiar que trabalham no estúdio. Tenho um diretor de animação, um diretor de animação de mecha, diretor-assistente… Até as animações chaves estão cheias de veteranos. Existem alguns jovens entre eles, mas estes são também muito habilidosos. Então, quando eu envio pedidos, eles atendem ou excedem o que eu esperava, e essa é uma nova experiência para mim.
Oguro: Sobre a suavidade do filme, Blue Eyed Casval tem bom gosto, e é muito agradável aos olhos. Outros trabalhos que você dirigiu como Crusher Joe, Arion, Venus Wars e etc, têm um sentimento pesado e bem opressivo. Eu adoraria assistir o tipo de trabalho que você está fazendo agora.
Yasuhiko: Hmmm… Infelizmente, existem apenas trabalhos inaceitáveis dessa época.
Oguro: Os trabalhos que você mesmo dirigiu, são inaceitáveis pra você?
Yasuhiko: Exato. Sejam os de agora ou os mais antigos, parece que minha capacidade ainda é insuficiente, a falta de mão de obra na época era esmagadora.
Oguro: Vamos falar sobre isso mais tarde e vamos focar em The Origin por ora. No começo, quais eram seus pensamentos quando surgiram discussões sobre a adaptação deste mangá?
Yasuhiko: Eu já comentei sobre isso em outros artigos várias vezes, foi quando Takayuki Yoshii era o CEO da Sunrise. Como se fosse um trabalho de sua vida, o ex-CEO Eiji Yamaura levou bastante tempo para persuadir Yoshii, e finalmente convencê-lo, e a mim, sobre o projeto. Foi em maio de 2000 que chegamos a um acordo. No começo, recusei o argumento dizendo: “Estou vivendo como mangaka agora, e há muitas coisas que gostaria de desenhar no futuro. E eu não estou brincando.”
Oguro: Naquela época, qual era sua posição sobre a franquia Gundam?
Yasuhiko: Eu queria esquecer Gundam, pois tudo tinha se encerrado pra mim. Eu gostaria que as pessoas se esquecessem de mim e de Gundam.
Oguro: Você fez tudo na trilogia de longas.
Yasuhiko: Sim. Apesar de ter me retirado durante a produção da série de TV, cheguei a pensar que não havia muito mais o que fazer, porque eu refilmei algumas cenas para o longa.
(Nota do entrevistador: Yasuhiko não conseguiu terminar os episódios finais devido a estar hospitalizado. Ele voltou para a trilogia de longas-metragens e demonstrou sua habilidade em novas cenas)
Oguro: Enquanto pensava nisso, o que fez você decidir desenhar The Origin?
Yasuhiko: Eu disse ao CEO Yoshii: “No caso de levarmos a série para o exterior, você acha que eles entenderiam o conteúdo? Quero espalhar Gundam como mangá, não como animação ”.
Oguro: A trilogia é uma compilação de episódios de TV editados, então as pessoas não conseguem entender a história sem algum conhecimento prévio.
Yasuhiko: Exatamente. Eu estou bem se vender ou não no exterior. Quando a primeira série de TV não foi bem, foi difícil de aceitar, como um membro da equipe que fez a animação. Tive pensamentos tais como: “Não é de admirar ... é difícil de entender, e está cheio de contradições”. Eu tinha colocado meu coração nisso. Depois que foi feito, eu nunca imaginei que uma geração mais jovem assistiria novamente através de reprises. Pessoas que sabiam de nossa situação entendiam como foi. Trabalhamos em uma sala fria, e com uma agenda terrível. Desde que o diretor-assistente desapareceu durante a produção da TV, pensamos: '‘esperamos que você (a audiência) goste da inclusão destas novas cenas’', e os fãs mais velhos foram atenciosos conosco. No entanto, os mais jovens que estão tão acostumados com a animação atual, diriam coisas como: “Que diabos é isso? Esse anime é velho” - e obviamente, isso é cruel. E foi por isso que me interessei em desenhar o mangá. No começo, eu disse a eles que levaria três anos.
(Nota do entrevistador: Quando a série de TV Mobile Suit Gundam foi exibida no Japão pela primeira vez em 1979, suas classificações na TV não foram boas. Eventualmente, uma demanda dos fãs solicitando reprises às emissoras tornou o programa popular.)
Oguro: Então você imaginou que poderia transformar 43 episódios em um mangá em 3 anos?
Yasuhiko: Sim. No entanto, isso levou 10 anos. Fui eu quem o esticou.
Oguro: O objetivo do The Origin era apenas tornar o First Gundam agradável para as pessoas que o viam pela primeira vez.
Yasuhiko: Precisamente. Eu pensei que serviria de suporte para a trilogia compilatória. No entanto, quando eu os assisti, por serem uma série de TV reformulada, eles são difíceis de entender, como apontou o CEO Yoshii. Não seria bom se eu mesmo não fizesse edições e não as desenhasse. Com isso em mente, uma história condensada simplesmente não funcionaria. Ao invés disso, preferi adicionar uma prequel animada explicando por que a história se passa dessa maneira por causa do passado de um determinado personagem, ficando um caminho mais nítido para mim, como um contador de histórias.
Oguro: Havia algum plano para fazer uma adaptação animada de The Origin durante a serialização do mangá?
Yasuhiko: Não, não havia tal plano. Por volta da segunda metade da serialização, o CEO Yoshii sugeriu algo como “Que tal fazermos como animação?”, mas não era como ‘Vamos fazer’ de fato, estava mais para 'E se fizéssemos?', e eu respondi: “Se há alguém que queira fazê-lo, então como faríamos?”, pois eu não tinha intenção de fazê-lo sozinho. Eu já tinha feito a série de TV e os longas, e passei dez anos desenhando o mangá. Achei que as pessoas poderiam me considerar um tolo se eu o fizesse como uma animação novamente.
Oguro: Quando ele sugeriu uma adaptação para anime, foi a imagem de uma adaptação completa do mangá The Origin que veio à sua mente?
Yasuhiko: Sim, foi o que imaginei. Houve um momento em que o CEO Yoshii disse que seria interessante fazer uma prequel animada que nunca foi contada no mangá. Então eu percebi que seria uma boa ideia e senti que realmente deveria ser feita. Devido a várias circunstâncias, então pude fazer a prequel.
Oguro: Você planejou participar como diretor-chefe no início da adaptação?
Yasuhiko: Não foi planejado dessa forma no início. Eu faria a verificação de cenário, mas estava planejando que outros funcionários fizessem o resto. Quando isso ficou definido, o novo trabalho de Tomino (Gundam: G no Reconquista) começou como uma série de TV e convertemos o nosso em OVA para equilibrar.
Oguro: Dizem que foi você quem selecionou (Tsukasa) Kotobuki-san como designer de personagens. Fiquei surpreso quando o vi sendo anunciado como o designer do anime.
(Nota do revisor: Kotobuki-san foi designer de personagens em franquias como Saber Marionette J e Battle Arena Toshinden)
Yasuhiko: Seu mangá foi serializado na Gundam Ace e chamou minha atenção. O trabalho dele tem um novo encanto que não consigo desenhar. Se eu fosse mais jovem, teria me esforçado um pouco mais para me adaptar a seu estilo.
Oguro: A princípio, Kotobuki-san deveria desenhar ambos, Casval e Artesia?
Yasuhiko: Sim. Quando o pedi que os desenhassem como estão atualmente, achei que ele ficou um pouco perdido. Talvez estivesse muito consciente de alguma coisa. Eu compreendi isso por que sou desenhista, mas se eu começasse a apontar “Isso está errado, isso aqui também”, isso lhe tomaria sua energia. Daí ele usaria pequenos truques e a imagem pareceria sem vida. Como não queria isso, resolvi dividir o trabalho. Agora eu tenho Kotobuki-san para lidar com os novos personagens principais. Então ele os desenha sem ressentimentos.
Oguro: O ar de novidade que você esperava disso está sendo demonstrado?
Yasuhiko: Eu acredito que sim. Exceto que descobri mais tarde que ele é um artista de mangá com uma boa parcela de vendas em seu currículo. Sinto muito se ele não pode seguir em frente sendo apenas “o artista de mangá Kotobuki'. Eu o encorajei a não parar, dizendo:” Continue fazendo mangás sempre que puder".